segunda-feira, 11 de julho de 2011

Em SIMONE são assumidas algumas formas de tentar ser feliz e por meio desta busca constante é difícil não nos depararmos com nossas opções sexuais. No entanto, o filme não defende nenhuma opção como a certa ou errada. Apenas, se pensa em maneiras de vivenciarmos intensamente nossas escolhas, sejam elas pela homossexualidade ou heterossexualidade. E elas não são nada fáceis mesmo, especialmente quando falamos de sexo. Afinal, ainda estamos revestidos de tantos tabus, por isso este filme quer apenas pensar e defender a liberdade sexual, como uma forma sincera de nos encontrarmos com nossos anseios. 

No entanto, não podemos deixar de participar das discussões e iniciativas que vão ao encontro da temática sexual, mais do que isso iniciativas que vão de encontro à intolerância. Afinal, não precisamos aceitar necessariamente as escolhas dos outros, apenas respeitar e tolerar. Assim, não posso deixar de citar neste momento a campanha #eusougay e lamento não dar mais tempo de juntar toda a equipe que trabalhou no filme SIMONE para compor uma foto com essa resposta. Confesso que maioria da equipe não é gay, mas tenho certeza que nenhuma das pessoas que estavam ali eram intolerantes, caso contrário não teriam se dedicado com tanto amor ao projeto. Simone...quer mostrar que a tolerância, o respeito e o direito à liberdade de ir em busca da felicidade estão acima de qualquer escolha, seja ela: sexual, religiosa ou política.



A campanha #eusougay consegue de uma maneira simples e singela mostrar que dizer #eusougay não significa ser gay (se o for parabéns ainda mais pela coragem), mas sim ser uma pessoa consciente da importância de ir contra a violência e a intolerância!! SIMONE também apóia está ideia!!! E quem quiser mandar fotos e participar da campanha é só clicar aqui: http://projetoeusougay.tumblr.com/

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O tal sentimento de saudade

Sinto saudades de algumas histórias que li e assisti na minha vida. Vocês não tem esta sensação? De história que carregam cheiros, gostos, imagens que ficam impregnados na nossa memória, independente do sentido despertado.

Natalia Mikeliunas em sua mensagem via facebook escreve: estou arrebentando de saudade. Esta também foi a pauta de nossa conversa no carro a caminho da Apema para pegar equipamentos. Que saudade é essa de algo que não se viveu completamente, ou não se conheceu profundamente? Ao redor da mesa mais tarde na casa de Simone também falamos de saudade, e do vazio que fica depois de um set de filmagem de um longa-metragem. Até comentamos o quanto seria interessante um estudo sobre esta fase  pré/entre/pós set, especialmente quando se convive num curto espaço de tempo tão intensamente com o mesmo grupo de pessoas.

Val Oliveira e mais algumas pessoas da equipe já viveram sets muito mais intensos do que o do filme SIMONE. Intenso no sentido do tempo de filmagem, bem como, no local que se faz as gravações, afinal muitas vezes saímos completamente de nosso mundo e rotina partindo para um mundo de certa forma muito mais ‘ficcional’ que o próprio filme que estamos gravando. Por um, dois meses nos afastamos de nossas famílias, amigos, casa, para nos entregarmos a novas convivências, novas experiências e intensidades. E é por isso que nos bastidores dessa ‘realidade’ de se fazer cinema existem muitas situações que ficam amarradas pelos vínculos feitos e pelas marcas desenhadas no alma de cada um ali. Val e Jô, por exemplo, são o exemplo clássico de um amor de set, e o quanto intenso pode ser uma história quando ela segue na vida real. 
No entanto, nos reunimos naquela circunstância, em um tempo e espaço e depois vamos embora. Voltamos para nossos mundos e então fica aquele inevitável e muitas vezes doloroso vazio. Vazio que não se sabe muito bem como explicar: alguns dormem profundamente durante dias, outros se afastam, entram em outro trabalho e tocam a vida para a frente, outros passam um bom tempo sem entender tudo que aconteceu.  Creio que esta mescla de sentimentos e intensidades se deva a história na qual todos submergem. SIMONE é uma história intensa e ao mesmo tempo tensa. Trata acima de qualquer coisa da dualidade de sentimentos, de nossas buscas e vontades. E creio que por isso não é difícil encontrar na história o mínimo de identificação. Binho Lemes da equipe da arte admite que SIMONE lhe motivou a entender muitas das decisões de sua vida. Em outras pessoas SIMONE despertou o desejo de continuar trabalhando com a sétima arte. Para muitos foi ponto de virada não tenho dúvida. Para SimoneTelecchi creio que nem ela mesmo tenha entendido ainda as dimensões da história.
No entanto é a tal saudade que fica a latejar: Saudade do que foi vivido nas vidas de Simone, Pedro e Cris; saudade dos dias e circunstância que nos encontramos no set; saudade do que ainda nem se viveu. Mas SIMONE continua e nos encontramos logo ali nos bastidores e na vida ‘real’ de cada um.

Alguém aí ta sentindo saudade deste filme que ainda nem foi às telas? Eu estou!!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A HISTÓRIA MAIS BONITA DA CIDADE!!!

            O ambiente estava barulhento, ouvi no mínimo três diferentes línguas nas mesas vizinhas. Tínhamos menos de uma hora para aquele encontro. E na falta de tempo e de um espaço mais adequado talvez nos desencontramos. Entre os desconfortáveis tons das diversas opiniões o clima ficou tenso. Um clima nada propício para um plano sequência, não ao menos tão leve e sutil quanto o sugerido pelo vídeo ‘a Banda mais bonita da cidade’. Sai dali com uma única conclusão e que fiz questão de compartilhar com o Juan Zapata: prefiro a ‘inocência’ dos artistas, do que as verdades dos burocratas e dos administradores. Por isso, a minha câmera passou maior parte do tempo desligada, não estava disposta a ‘registrar’ o aparente desconforto daquela reunião, apesar de saber que momentos de crise também fazem parte de uma pré-produção.

Ao chegar na produtora três jovens estudantes de publicidade e jornalismo avaliavam como desenvolver um produto/projeto que pudesse chamar a atenção das pessoas a ponto de conquistá-la e tornar-se um ‘viral’ na internet. Chegavam a conclusão de que o plano de comunicação até então desenvolvido não teria sido tão eficaz, apesar de estar sim mostrando a cara e a sensibilidade de SIMONE ao mundo. Mas queríamos ser um ‘viral’. Essas cenas aconteceram no início da semana passada quando o vídeo ‘Oração’ da ‘A Banda mais bonita da Cidade’ foi postado no Youtube. O vídeo foi compartilhado por boa parte da equipe da Zapata, e se tornou uma das trilhas sonoras no meio da tarde, para nos animar nos dias de instabilidade. No entanto, em poucos dias tínhamos dados de que o vídeo teve 1,5 milhões de visualizações no youtube, bem como 250 mil acessos no site da banda. Ou seja, eles se tornaram um viral enquanto nós pensávamos em como ser um viral. A partir daí todo dia uma nova paródia da música era acessada por aqui. Estávamos impressionados com o fenômeno, e quem não ficou?

Nestes mesmos dias, enquanto todos comentavam o tal vídeo, Nathália (nossa linda e competente montadora) editava um vídeo sobre a ida de Simone Telecchi a Pelotas, que tive o prazer de estar junto. Não creio que este vídeo tenha perfil de se tornar um viral, no entanto, confesso que ele ficou tão leve/poético quanto a história de Simone. Em pouco mais de 3 minutos vocês acompanham e conhecem um pouco mais do por que essa história pode ser a ‘mais bonita da cidade’. E sem ser a mais repetitiva da cidade, afinal, é uma história baseada em História real e por mais que histórias possam se repetir, ou então serem muito parecidas, a história de Simone Telecchi é somente nós que vamos contar no filme SIMONE!!! Nos ajudem a construir este projeto, visualizem e compartilhem este vídeo!!!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

SIMONE ABRE OS OLHOS REPENTINAMENTE...

Quando me perguntam por onde começou esta história, não me detenho em contar: em apenas um olhar. Amor a primeira vista? De certa forma, acredito que sim, por meio daquele olhar começou mais do que uma história de amor, mas de amores, suscetível a todos os dramas e levezas que carregam os amores correspondidos e até mesmo os não correspondidos. Das paixões por detrás daquele olhar uma longa história...Juan Zapata hoje se pergunta como teria saído o material que gravou há cinco anos de algo que foi tão instintivo. Afinal, foi apenas um olhar que o levou a conhecer a história de Simone Telecchi. Naqueles olhos Juan conseguiu reconhecer o reflexo de algo paradoxal entre o feminino e o masculino.

E foi por meio do olhar atento do diretor, durante a filmagem de um roteiro em 2006, que Juan encontra na história de Simone, a possibilidade de trabalhar sua primeira ficção. A atriz lembra que não queria realizar o teste a ponto de chegar atrasada. Juan lembra que lhe chamou a atenção o jeito de Simone, e sua dedicação de ficar no set até tarde, mesmo depois de já ter feito sua parte no roteiro que não passava de UM OLHAR. Mas como disse anteriormente esta história é longa e Juan Zapata sem fugir do seu olhar de diretor de documentário, propôs em um primeiro momento trabalhar a construção do roteiro, por meio desta linguagem. Este exercício de pesquisa o leva para algo que talvez não possa ser contemplado na linguagem mais “realista” do documentário, mas quem sabe possa ser encontrada na “licença poética e criativa” de um roteiro de ficção.

Surge, então, o projeto de ficção SIMONE. Um roteiro que tem como base uma história real e na aproximação sensível entre Juan e Simone que mais do que diretor e atriz se tornaram amigos e cúmplices dessa história. Um roteiro que pelo seu carater híbrido deixa margens para diversas interpretações e também dúvidas: afinal qual o limite entre a história de Simone e a apropriação do diretor? Uma confusão que creio que também fazem parte dos dilemas de Simone e de Juan. Afinal, não é nada fácil assumir as consequências de um olhar.

Esse foi o início...o meio estamos a caminho...o final não posso ainda lhes contar, por que talvez ele ainda se construa nesse encontro de tantos olhares!!!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Em pétalas de rosas: referências, hibridez e por que não cinema?

As melhores referências de nossa vida estariam no passado? Se pensarmos que somos feitos dos sentimentos vivenciados a cada circunstância não tenho dúvida que sim, é no passado que estariam as bases para a construção de nossas histórias e percepção de como seriam as próximas, ou então, mudamos todas as nossas referências e recomeçamos. Inquietudes de pensamentos híbridos?

SIMONE talvez mais do que um filme seja isso: uma história feita a partir de referências de inquietantes descobertas e buscas! Neste sentido, é um filme muito “real”. Coloco real sempre entre aspas, por que é muita pretensão minha acreditar que realidade exista de fato! Tudo bem, papo filosófico demais, mas o roteiro Simone dá margem para tudo isso, especialmente quando se envolve com a história. Como vocês se envolverão certamente!
Simone Telecchi perdeu boa parte de suas fotos, rasgadas entre algumas de suas vivências. Mas se não tivessem sido rasgadas naquele momento, um dia as fotos de Simone seriam desgastadas pelo tempo. Como o tempo que corrói as antigas cartas de amor de papel frágil e amarelado. Como o tempo que corrói as pétalas das rosas vermelhas expostas às intempéries das mudanças climáticas. O tempo que corrói os amores e reconstrói as possibilidades. É sobre este tempo, e sua hibridez que discorre este texto. 



Mas, o que é hibridez? Como entender um híbrido? Digitei estas frases a pouco no Google, não buscava uma resposta exata, mas a multiplicidade de comentários e percepções sobre o conceito. Minha pretensão não era somente as referências do termo hibridez trabalhada pela arte, mas sim, buscar todas as referências possíveis, para então pensar nos híbridos possíveis em SIMONE.

Do homem dicotômico ao homem híbrido; A cidade como um híbrido; O campo híbrido da informação e da comunicação; Algoritmo híbrido; um modelo híbrido de pesquisa. Não há como negar, hibridez virou um conceito apropriado por todas as áreas do conhecimento. Segundo a biologia, híbrido é o cruzamento entre duas espécies diferentes. Tudo bem, mas o que tudo isso tem a ver com o filme SIMONE?

Estávamos os três na sala da Zapata Filmes, Juan me diz convicto: SIMONE é um híbrido! Não tinha dúvida disso. Ainda mais acompanhando as ideias do diretor e roteirista do filme, que por sinal se considera um ‘ser híbrido’. Decidi ir mais a fundo na questão, interessava-me pensar na hibridez desta história.

Auguste e Luis Lumière foram citados nas primeiras frases de nossa conversa. Teriam sido eles os responsáveis pelo início de uma proposta de linguagem híbrida em que o “real” e a mise-en-scéne estão constantemente em diálogo? Pensamentos para uma longa conversa de bar, não no sofá da produtora depois de um longo dia de trabalho! Daquelas insistentes conversas para tentar entender quais as diferenças e proximidades entre ficção e documentário. Para mim, debate já vencido! Creio que para Juan Zapata também, afinal, a partir do momento que conhecemos alguém, algo (como já citei no texto abaixo) começamos a cercá-los com uma perspectiva ficcional. Assim, também aconteceu com SIMONE. 

E é buscando as referências de uma história passada de Simone Telecchi que Juan explora a hibridez em SIMONE ficcional. Ciente de que Simone está cada vez mais distante daquela mulher que ele conheceu a cinco anos atrás. E também ciente, que este processo do filme, aos poucos trará aquela “Simone” de volta. Não inteira, nem com seus mesmos traços, mas Simone interiorizando e sentindo mais a sua história. E isso seria possível? Não seria pretensa e arriscada demais a tentativa do diretor Juan Zapata, quando ao mexer com vivências tão particulares, está motivando sentimentos que podem por fim acarretar as marcas do tempo em Simone. E o tempo é cruel, sabemos disso! Mas tem também sua leveza poética!

Sim, é uma ficção. Mas, sim, também é uma história já vivenciada, obviamente que por uma base de sentimentos, de temporalidades e de pessoas muito diferente das de agora. Pois, certamente não serão as mesmas nuvens de hoje que cobriram os céus de Porto Alegre há 5 anos. Simone Telecchi, no entanto, estará lá no set de gravação, interpretando uma narrativa que por mais ficcionalizada que seja, a fará passar por ruas e por lugares nas quais ela já passou, mas beijará bocas que nunca beijou. Ela é atriz e o tempo de agora exige que se desvencilhe dos seus medos adentrando intensamente em uma história hibridamente interferida pelo olhar de Juan. Arriscado, não? No entanto, sei também que Juan gosta de um risco, mesmo sem saber se vai sobreviver. Simone, também gosta. No fim das contas, acho que toda a equipe já gosta disso! 


Nas fotos do passado...
poucas.
Nas ruas de Porto Alegre...
outras.
Nas bocas ficcionais...
loucas.
Nas surpresas que o diretor prepara para as gravações...
Ocultas.
Na câmera silenciosa...
Desligou-a para ouvir o tempo!!

Nesse tempo um ‘ser híbrido’ que procura na hibridez da vida a leveza poética de outros tempos...um tempo que talvez somente SIMONE depois do dia 16 de maio consiga nos dizer...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

DAS SUAS LETRAS...TANTOS POEMAS...


“Nadie es alguien, un solo hombre inmortal es todos los hombres. Como Cornelio Agrippa, soy dios, soy héroe, soy filósofo, soy demonio y soy mundo, lo cual es una fatigosa manera de decir que no soy”

Leu esta frase enquanto organizava a estante que mudara de lugar em sua sala. O trecho, retirado do texto El Inmortal de Jorge Luis Borges, caiu como uma luva na minha busca de tentar entendê-lo, ao menos na perspectiva do roteiro SIMONE.

Ele anda mais rápido que as nuvens. Difícil conseguir um momento de sua contemplação para ver o ritmo das suas próprias nuvens. Ele deseja, às vezes mais que “Simone”, difícil entender os seus desejos quando não se consegue tocar suas nuvens. Entre as coisas que mais o ouço falar esta a palavra: correria. Creio que pensas que suas nuvens correm mais rápido aqui em Porto Alegre que nos outros lugares. Mas, por que insistiria em falar de nuvens quando Juan Zapata é algo tão carnal e visceral?

Na sua sala, na Zapata filmes, não há nuvens, a não ser as que por alguns instantes pousam sobre sua introspecção. Mas há uma foto na estante com trilhos de trem de Cuba, um par de sapatos e uma perspectiva que poderia nos levar para muito longe. A foto encontra-se em meio a tantos filmes latino-americanos, quanto a livros de cinema e literatura do mais sofisticado gosto. Também, há espaço para recuerdos de suas muitas viagens. E não são poucas, deve ser por isso que observa tanto as nuvens, pois em cada lugar elas devem ter uma densidade e intensidade diferente. Atrás de sua mesa um espelho gigante dá margem para a visão de dois mundos. O “real” de Juan Zapata, e o “irreal” do roteirista e “sonhador” Juan Zapata. Se é que se pode dividir estes dois mundos. Creio que para Juan, não. Soube, ainda, que por ali ele guarda uma possível caixa de sonhos. Um refletor no canto direito ao lado da estante, algumas garrafas de wiski e run... por sinal, já vazias. Mas, certamente o que mais chama a atenção é a fotografia em destaque da esperteza de um pequeno menino. E creio que deve ser para ele - para seu filho Miguel - que há dez meses Juan descreve suas melhores visões de nuvens.



E onde entra SIMONE em meio a tantas referências de seu mundo? Juan conta que uma de suas melhores amigas não gosta do roteiro por que vê nele mais de Juan Zapata, do que a própria história de Simone. E talvez ela esteja certa, pois o diretor, ao encontrar com Simone reconhece na sua história a possibilidade de confrontar e identificar muitas das suas dificuldades em assumir diante da sua realidade de Medellín, na Colômbia, o querer fazer “arte”, por meio do cinema. Suas dificuldades em se assumir não tinham a ver com a sua sexualidade, mas sim com seu olhar sobre o mundo. Um olhar, que para um mundo conservador de Medellín lhe impôs muitos medos. No entanto, não foram os medos de Simone que lhe chamaram a atenção e sim sua leveza. Pode ser que a falta de dramaticidade diante da vida é mais interessante para Juan, em Simone, do que o próprio drama.

Pergunto o quanto da história de Simone Telecchi está no roteiro, e o quanto ele permitiu avançar na sua ficcionalidade? Obviamente, que no seu discurso sempre apaixonado, Juan não me decepcionara outra vez. Afinal, ele sabe que a partir do momento que conhecemos alguém, passamos a ficcionalizá-la, a criar pequenos mundos e percepções. Não poderia ser diferente com Simone.

Mas e as nuvens? Poderia ele viver no mundo das nuvens? Creio que não, afinal o mundo do trabalho com tantas preocupações o traz para a realidade, às vezes mais dura do que as que aparecem nos filmes. O fato é que as nuvens estão muito presentes na história de Simone, trazendo uma carga dramática, algo de mais existencialista por traz da leveza aparente nas decisões da personagem. Juan afirma, convicto, de que sentiu diferença nas nuvens quando chegou em Porto Alegre há sete anos, mas que a introdução delas na história se deu de forma natural. A princípio sem grandes pretensões, mas que no fim acabaram dando margem para se pensar em tantos outros mundos possíveis. Nuvens como passagem do tempo: um tempo de desejos, de sonhos e de escolhas. Um tempo de dar vez, voz, suor e intensidade à SIMONE.

Terapia? E como não precisar de terapia quando se é tão inquieto, quando se tem dificuldade de fazer com que o cérebro pare ao menos por algumas horas em um sono profundo. Aliás, sono profundo, creio que Juan Zapata não deva ter a muitos anos quando decidiu que queria fazer filmes. Decisão tomada por influência de um filme, por certo. El lado oscuro del corazón de Eliseo Subiela foi o filme que despertou muitas coisas em Juan, inclusive seu instinto para tentar sair pelo mundo a fazer mulheres voarem...e segundo ele, algumas de fato voam. E ele nestes momentos deve ter se sentido um verdadeiro “Don Juan”.



Um dos seus sonhos é fazer um filme de poesia, ao mesmo tempo, Juan Zapata sabe o quanto de poesia tem em Simone. Um roteiro muito carnal isso é fato, mais de suor do que de rimas. Mas um roteiro aberto a descobertas, que não se termina nas nuvens, na falta de drama ou nas decisões sexuais, mas sim se completa a cada novo olhar sobre ele.

Sem que Juan perceba lhe “roubo” o livro de Jorge Luis Borges para ao fim me apropriar de mais algumas palavras, afinal: “Cuando se acerca El fin, escribió Cartaphilus, ya no quedan imágenes Del recuerdo; solo quedan palavras"... e se alguém contemplasse a tele do seu computador entenderia por que ele esquece de mandar alguns e-mails por dia. É tão complexo quanto suas nuvens.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

A PRIMEIRA NOITE COM "SIMONE"

Meu primeiro encontro com o roteiro SIMONE, se deu numa madrugada longa quando ainda morava em Santa Maria. Uma madrugada sem nuvens no céu. Estava tão cansada naquela noite que decidi ler apenas as primeiras páginas. Mera ilusão a minha acreditar que SIMONE me deixaria durmir sem nenhuma inquietação. Foi então, que quando me dei conta meu nível de excitação física e mental era tão grande que a madrugada seria longa...muito longa.



Não, que o roteiro fosse perfeito, quanto menos que todas as escolhas do diretor Juan Zapata se justificavam. Minha inquietação se moveu tanto no sentido de ver o potencial do tal roteiro, quanto de ver que muitas coisas ainda estavam por se resolver naquela história. Fui durmir muito tarde, depois de ler mais de 70 páginas. Estava desassossegada. Percebi que não tinha mais como voltar atrás, era preciso ir muito mais longe na HISTÓRIA DE SIMONE.

Vamos comigo? Lhe garanto essa história é muito longa ainda!!